sexta-feira, 7 de março de 2014

Gosto é questão de educação

Dizem por aí que "gosto não se discute". Não concordo muito com esse ditado, pois gosto é uma coisa que tanto é muita discutida, como também é discutível. Na filosofia, por exemplo, um amigo nos lembra: "gosto é o que mais se discute, a disciplina de estética é sobre isso!".  

Por anos toquei guitarra, até que um dia, por necessidade, comecei a estudar o contra-baixo. Nunca tinha prestado muita atenção no papel do baixo na música. Foi o estudo e a pratica que me fizeram educar o meu ouvido para prestar atenção em cada nota e em cada cadência daquele grave instrumento. 

Foi então que comecei a entender a função rítmica e de harmonia do baixo. Não virei um bom baixista, mas agora eu aprecio o contra-baixo muito mais que antes ao ouvir uma música. O mesmo me ocorreu com relação ás cores e á moda: eu comecei a treinar meu olhar como treinei meu ouvido. Não sou nenhum especialista, mas já adquiri uma melhor capacidade de apreciação dessas coisas.

Nesse contexto, faz todo sentido falar sobre o gosto como questão de educação. Não de uma dogmatização do gosto, mas sim de capacitação estética. É difícil saber apreciar um vinho, curtir jazz, ou fruir um quadro sem o treino que é não apenas intelectual, mas dos sentidos. A apreciação estética é aprendida.

Muitos reclamam que o brasileiro só gosta de "sertanejo" ou "funk", e que essas são coisas de mau gosto. Não vejo dessa forma. Creio que esses estilos musicais também são expressão de uma cultura. É certo que muitos são ritmos comerciais justamente porque simples, repetitivos, exigindo pouco treino do ouvido e, portanto, são digeridos muito facilmente. Além disso são dançantes, o que é muito bom. O problema não é gostar disso, o problema é não ter a capacidade de apreciar nada um pouco mais complexo em termos de rítmica, harmonia ou poesia. Em suma, é não conseguir apreciar nada diferente. 

Isso se resolve somente com educação, mas num país de escola destruída o gosto fica arruinado não porque curte o sertanejo comercial, mas sim porque não consegue curtir nada para além disso, não consegue ampliar a sua própria apreciação estética. Quando isso acontece, grande parte da cultura se perde pois não é apreciada; somente o simples e o simplório sobrevivem. Além disso, viramos pessoas tristes, monotemáticas, pois nossa experiência e prazer ficam muito limitados e viciados.




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